domingo, 10 de março de 2013

A Mulher na Historia da Vida

  Durante muito tempo a história foi escrita sob a ótica masculina e pela classe hegemônica. Portanto, esse tipo de estudo produziu um material restrito, refletindo apenas sobre a figura do homem como sujeito universal. Suas relações expressavam somente uma versão da história.
A figura da mulher raramente era apresentada pelos historiadores, só aparecia marginalmente na história. Margareth Rago defende que “todo discurso sobre temas clássicos como a abolição da escravatura, a imigração europeia para o Brasil, a industrialização, ou o movimento operário, evocava imagens da participação de homens robustos, brancos ou negros, e jamais de mulheres capazes de merecerem uma maior atenção”.
Surge a pergunta: e a mulher onde estava durante todo esse tempo? Estava confinada ao espaço da vida privada, envolvida no cuidado com o lar, na educação dos filhos, na atenção com o marido; ocupada demais para ser percebida pela história, que até então se limitava em tratar da vida pública, domínio quase que exclusivo dos homens.
Na perspectiva da historiadora Joan Scott, somente nas últimas duas décadas é que a “história das mulheres” se definiu. Segundo Margareth Rago, a política feminista dos anos 60 foi o ponto de partida. As integrantes do movimento reclamavam uma história onde houvesse heroínas, demonstrando a atuação das mulheres na sociedade. Lutavam também para que a opressão que as sufocava fosse denunciada pela história.
Segundo Joan Scott, tanto profissões, quanto organizações profissionais são hierárquicas. Ou seja, incluem e excluem indivíduos da qualidade de membros, segundo seus próprios critérios; aqueles já profissionais atuantes se reservam o direito de julgar aqueles que ainda estão fora do campo profissional. “As mulheres, os negros, os judeus, os católicos e os não-cavalheiros foram sistematicamente subapresentados durante anos”.
Para Margareth Rago, o movimento feminista, anunciando suas reivindicações à sociedade, foi o princípio da inclusão das mulheres no espaço público do mercado de trabalho. Com a conquista desse novo espaço na sociedade elas passaram a ser notadas pelos historiadores.
Scott menciona o dilema da diferença homem-mulher, de acordo com Martha Minow, que explica que o dilema se dá pela própria construção da linguagem, onde o termo universal usado para se referir ao ser humano é “Homem”. É possível ainda perceber que a discriminação com a mulher está registrada na própria língua portuguesa, visto que a língua acaba por refletir a cultura do povo através de junções de características comuns.
De acordo com Maria Eunice Figueiredo, o significado do termo "mulher", encontrado no dicionário, é um tanto discriminatório. Já em relação ao termo homem, não se pode dizer o mesmo.
Guedes afirma, citando Scott, que a mulher está fora do inominável, a linguística está construída no masculino. De acordo com Scott: “... reivindicar a importância das mulheres na história significa necessariamente ir contra as definições de história e seus agentes já estabelecidos como verdadeiros ou pelo menos como reflexões acuradas sobre o que aconteceu (...) no passado”.
O domínio que os historiadores objetivavam ter do passado era parcial, já que, pelo que se pode ver na maioria das produções historiográficas, somente o homem aparecia enquanto sujeito da história. Através dos estudos realizados, eles privilegiavam apenas uma versão da história, que retratava a vida pública, esfera na qual a mulher por muito tempo não existiu.
Nesse sentido, existe ainda o problema das fontes. A historiadora Michele Perrot afirma: “há uma carência de pistas no domínio das fontes com as quais se nutre preferencialmente o historiador, devido à deficiência dos registros primários”. Ou seja, a autora explica que aqueles a quem cabia registrar a história, no caso, homens administradores, policiais, juízes e padres, efetuaram raras evidências da mulher na história.
Perrot cita exemplos de fontes onde é possível encontrar informações distintas para reconstituir a história das mulheres; além das fotografias pode-se buscar informações nos arquivos familiares, atas e outros documentos privados: “... nos quais preservam os anais do lar, as correspondências familiares cujos escribas habituais são elas, os diários íntimos cujo emprego é recomendado às jovens solteiras pelos confessores e, mais tarde pelos pedagogos, como uma forma de controle sobre si e que constituem um refúgio de escritos de mulheres, domínio cuja imensidão tudo atesta”.
Esses registros, porém, são comumente destruídos pela família e de difícil acesso, uma vez que expõem a vida privada da família. Durante a pesquisa que busca fontes para se fundamentar, pode-se recorrer às fontes orais, no caso em análise os filhos dos imigrantes judeus.
A história oral proporciona às mulheres, assim como a todos que foram silenciados pela história, a oportunidade de ganharem voz, saindo do anonimato a que foram confinados durante séculos. Contudo, não é incomum que os historiadores que realizam pesquisas enfocando a temática da mulher, ou seja, uma história de mulheres, sofram agressões morais e tentativas de relegarem seu trabalho, acusando-o de não histórico.
Existem muitas produções historiográficas que apresentam a mulher como tema. Além da obra de Margareth Rago, cita-se a de Sasffioti - A mulher na História; a de Hahner - A mulher brasileira e suas lutas sociais e políticas; e outras.
As obras, segundo Rago, vão revelar a preocupação em evidenciar a presença da mulher como ser atuante da década de 80. Estas colaboraram: “...reinventando seu cotidiano, criando estratégias informais de sobrevivência, elaborando formas multifacetadas de resistência à dominação masculina e classista... confere-se um destaque particular a sua situação como sujeito histórico, e portanto, a sua capacidade de luta e de participação na transformação nas condições de vida”.
Tomando por base a ênfase que a autora tem dado ao período da infância, não é de se espantar com a visão contraditória que ambos têm do casamento. São criados de maneira oposta e depois a sociedade quer que construam uma vida em comum. Depois a sociedade critica a mulher, atribuindo-lhe fama de má motorista, ou ao homem por não desempenhar bem o papel de pai.
Essa situação começou a mudar com a mulher conquistando seu espaço na vida pública. Ela passou a ter mais autonomia na escolha de seu futuro. A liberdade vem como o intuito de preencher o sentimento de segurança que tanto se busca.
Acredito que o problema é que a mulher jamais foi treinada para a liberdade, e sim para a dependência. Ela se depara com a negação de tudo que acreditava ser correto e a mudança de seu comportamento se dá lenta e gradativa, como qualquer mudança. É comprovado cientificamente que a mulher não é menos capaz que o homem, possuindo a mesma capacidade de aprender e produzir.
De acordo com os estudos psiquiátricos de Alexandra Symonds, citada por Colette Dowling, a dependência é um fenômeno que ataca basicamente mulheres. Presume-se que é fruto da educação feminina, onde as mulheres são ensinadas a serem dependentes, o que torna comum essa dependência em bons ou seguros casamentos, com um marido que lhe dê segurança psicológica e financeira. Essa atitude é consequência das condições impostas pela própria sociedade. 


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