Um
conto Tibetano fala de um estudante de meditação que, enquanto meditava em seu
quarto, pensava ver uma assustadora aranha descendo à sua frente. A cada dia a
criatura ameaçadora retornava cada vez maior em tamanho. Tão terrificado estava
o estudante que finalmente foi ao seu professor para relatar o seu dilema:
“Não
posso continuar meditando com tal ameaça sobre mim,” disse ele tremendo de
pavor.” Vou guardar uma faca em meu colo durante a meditação, de forma que
quando a aranha aparecer eu possa matá-la!”
O
professor advertiu-o contra esta idéia:
“Não
faça isso. Faça como eu lhe digo: leve um pedaço de carvão na sua meditação, e
quando a aranha aparecer, marque um ‘X’ em sua barriga. Depois disso venha até
mim.”
O
estudante retornou à sua meditação. Quando a aranha novamente apareceu, ele
lutou contra o impulso de atacá-la e em vez disso fez como o mestre sugeriu.
Então
correu para a sala de dele, gritando:
“Eu
a marquei na barriga! Fiz o que me pediu! O que faço agora?”
O
professor olhou-o e falou:
“Levante
a túnica e olhe para sua própria barriga.”
Ao
fazer isso, o estudante viu o “X” que havia feito.
Dia
de Faxina
Estava
precisando fazer uma faxina em mim… Jogar alguns pensamentos indesejados para
fora, lavar alguns tesouros que andavam meio enferrujados…
Tirei
do fundo das gavetas lembranças que não uso e não quero mais.
Joguei
fora alguns sonhos, algumas ilusões… Papéis de presente que nunca usei,
sorrisos que nunca darei; Joguei fora a raiva e o rancor das flores murchas que
estavam dentro de um livro que não li. Olhei para meus sorrisos futuros e
minhas alegrias pretendidas… E as coloquei num cantinho, bem arrumadas.
Fiquei
sem paciência!… Tirei tudo de dentro do armário e fui jogando no chão: Paixões
escondidas, desejos reprimidos, palavras horríveis que nunca queria ter dito,
mágoas de um amigo, lembranças de um dia triste… Mas lá também havia outras
coisas… e belas!
Um
passarinho cantando na minha janela… Aquela lua cor-de-prata, o pôr do sol!…
Fui me encantando e me distraindo, olhando para cada uma daquelas lembranças.
Sentei no chão, para poder fazer minhas escolhas.
Joguei
direto no saco de lixo os restos de um amor que me magoou. Peguei as palavras
de raiva e de dor que estavam na prateleira de cima, pois quase não as uso, e
também joguei fora no mesmo instante!
Outras
coisas que ainda me magoam, coloquei num canto para depois ver o que farei com
elas, se as esqueço lá mesmo ou se mando para o lixão.
Aí,
fui naquele cantinho, naquela gaveta que a gente guarda tudo o que é mais importante:
o amor, a alegria, os sorrisos, um dedinho de fé para os momentos que mais
precisamos… Como foi bom relembrar tudo aquilo!
Recolhi
com carinho o amor encontrado, dobrei direitinho os desejos, coloquei perfume
na esperança, passei um paninho na prateleira das minhas metas, deixei-as à
mostra, para não perdê-las de vista.
Coloquei
nas prateleiras de baixo algumas lembranças da infância, na gaveta de cima as
da minha juventude e, pendurada bem à minha frente, coloquei a minha capacidade
de amar… E de recomeçar…
Napoleão S Filho
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