terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Medo de psiquiatra


Pois muito bem, o dia transcorria normalmente sem aparatos nem sustos, e eu estava aproveitando o tempo livre entretidamente entregue à obrigatória e cotidiana leitura de alguma publicações frenológicas através das ondas da Internet, em busca de um fato novo, mesmo que se referisse a um passado não muito distante. Prosseguia eu neste mister de curiosidade, quando um fato que considerei impressionante prendeu-me fortemente a mais que distraída atenção. E não era para menos, acredite quem ora me lê. Deparei-me com uma pesquisa antiga, realizada em 1977 pela ajuizadísssima Associação Mundial de Psiquiatria e que abrangeu cerca de quinze países. A pesquisa revelou que em cada quatro suplicantes que procuram o chamado clínico geral, no mínimo, um deles padece de transtornos mentais de maior ou de menor gravidade.

Embora não seja de minha natureza a tendência de muito acreditar em estatísticas, de um certo modo ficou comprovado e estabelecido, sem sombra de dúvida, ser o desprezado alienista a última e desesperada opção da padecente clientela. Sim, por mais que tal verdade nos chateie e até cause uma certa mágoa profissional, os doentes somente apelam para o psiquiatra e olhe lá, quando nenhum outro esculápio dá jeito no caso. Há doentes que vão até disfarçados ao consultório do psiquiatra por medo e serem reconhecidos e serem chamados de doidos. Por isso mesmo, quanto paciente não anda perambulando de especialista em especialista gastando o seu rico dinheirinho em vão?

O próprio penitente é o primeiro a demonstrar uma feroz resistência à infeliz ideia de que seus males possam ter origem psíquica ao invés de somática. E essa tal costumeira atitude costuma derivar do arraigado preconceito que considera qualquer doença mental como uma espécie de fraqueza moral, uma anemia do caráter, uma personalidade pusilânime ou muito simplesmente não passar de um acesso de frescura. E não são somente os pacientes que assumem essa posição retrógrada, sem mais razão de ser em pleno Século XXI. Até os próprios médicos, apesar do seu suposto conhecimento sobre as doenças mentais, até parecem desconfiar ser a Psiquiatria uma praça esotérica não muito condizente com a castiça e nobre ciência médica. Na opinião desses que assim pensam, a psiquiatria não passa de história pra boi dormir.

Está estabelecida a questão dominante: só vai a psiquiatra quem muito doido é, aliás, mais doido do que o próprio psiquiatra a quem procura. Por causa do conceito pejorativo contido nessa frase, milhares de pessoas continuam a seguir o seu calvário rotativo pelos consultórios, sem diagnóstico nem tratamento corretos. Há doentes que se submetem a uma maratona sem fim de exames clínicos da primeira a última geração. E o que é pior, não acreditam nos resultados de nenhum deles. Muito mais pelo receio e pela recusa em aceitar-se portador de ansiedade ou de depressão, do que pela ignorância nosológica de certo coleguinhas. E assim permanecem em eterno sofrimento inútil até perderem a última esperança e finalmente ir ao psiquiatra como quem vai para a UTI.

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